Como o home office com crianças reforça o convite às empresas para repensarem práticas que apoiem famílias com filhos na Primeira Infância.
Artigo por: Clarissa Belotto, fundadora do Maternar360
"É preciso uma aldeia inteira pra cuidar de uma criança!" Este provérbio africano revela-se muito atual, sobretudo em tempos de pandemia e isolamento social. Voltar pra casa escancarou o tamanho da rede de apoio que as famílias precisaram construir, entre avós, babás e escola, para seguir equilibrando a balança carreira & parentalidade.
Se fizermos um recorte para a realidade da mulher no mercado de trabalho, o cenário que vemos é ainda mais insano: estudo realizado por pesquisadoras do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, na Espanha, comprovam que mães de crianças pequenas são as mais afetadas pelo estresse em meio à pandemia, enquanto tentam sobreviver ao trabalho (de madrugada), o cuidado com a casa e a atenção à rotina escolar dos filhos.
Se o recorte for ainda mais preciso e olharmos mães com crianças na Primeira Infância, entendemos o tamanho desta demanda, já que o desenvolvimento da criança neste período requer presença e disponibilidade para brincar com a mesma importância de quem requer comida e banho quentinho.
Mas porque falar sobre Primeira Infância?
É durante a Primeira Infância, período que corresponde do 0 aos 6 anos de vida, que o cérebro da criança está a todo vapor, formando 90% de todas as conexões cerebrais de uma vida! As experiências que a criança vivencia nesta fase irão formar as bases do adulto que ela irá se tornar. A construção de vínculos, o afeto e o brincar são elementos fundamentais para garantir o desenvolvimento pleno da criança, tão fundamentais quanto o acesso à saúde e alimentação. Cada dólar investido na Primeira Infância equivale a 13x mais retorno para a sociedade, diminuindo a desigualdade econômica e social. Nenhum outro investimento é tão rentável!
E não são só os retornos sociais e de longo prazo que comprovam a eficiência deste investimento. Empresas também têm observado resultados quando apostam em políticas internas que apoiam pais e mães em seus papéis de cuidado com os filhos. Estudos realizados pela organização empresarial norte-americana ReadyNation indicam que programas em prol da Primeira Infância têm impacto direto na produtividade dos funcionários, na medida em que aumentam a concentração no ambiente de trabalho e reduzem o número de faltas.
Além disso, medidas nessa direção melhoram a imagem da empresa, o que reflete na atração de clientes e na capacidade de reter funcionários.
O movimento já começou mas ainda é pequeno.
Em 2019, a adoção de políticas que garantem o bem-estar de pais e filhos foi assunto na pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, realizado pelo Great Place to Work (GPTW) em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e United Way Brasil.
O estudo mensurou pela primeira vez quantas empresas se preocupam em oferecer benefícios com esse foco. Seis organizações se destacaram na categoria Melhores Empresas na Atenção à Primeira Infância: Johnson & Johnson, Takeda, Whripool, Cisco, IBM e Santander. A avaliação desta categoria na pesquisa do GPTW continuará em 2020.
O que podemos desejar das empresas e sociedade para o novo normal?
Foi preciso uma pandemia para levar à tona as necessidades das crianças pequenas. Para mostrar o quanto a presença dos pais e cuidadores é importante para o seu desenvolvimento físico, social, cognitivo e emocional. Foi preciso que as 8h de escritório fossem transpostas para casa, num home office louco com criança e educação à distância, para falarmos com clareza sobre a necessidade de equilíbrio, de divisão de tarefas, de empatia e colaboração. Seja no convívio em casa, seja no ambiente empresarial.
À sociedade, desejamos que possamos ser humanos o suficiente para reconhecer os desafios de criar filhos melhores para um mundo melhor e nos tornarmos rede, cada qual com suas possibilidades.
Às empresas, que tenham a sensibilidade de assegurar direitos e apoiar a mãe e profissional, que neste momento, terá que interromper uma reunião para acudir o choro da criança, ajudar a calçar o sapato e preparar o almoço. Sem ter que pedir desculpas. Sem ficar constrangida.
E que estes tempos inspirem o futuro, reverberando em discussões concretas sobre práticas e cultura empresarial que apoiem famílias com filhos na Primeira Infância. Afinal, é preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança!
Clarissa Belotto
mãe da Manu e da Nina
Fundadora do Maternar360
Empresa que descomplica o desenvolvimento infantil através de vivências semanais e um clube de descontos.
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