Por Marina Ratton, Founder & CEO feel
Quem circula no ecossistema de inovação sabe que o sucesso de qualquer produto e serviço passa pela resolução da dor do cliente.
Não é uma jornada fácil: resolver um problema requer constante validação, pesquisa e mergulho em um universo muitas vezes subjetivo. Quando essa “dor” é muito íntima e envolta de tabus, o desafio se torna imensamente maior, uma vez que verbalizar incômodos costuma ser algo mais difícil do que imaginamos.
Quem melhor para projetar soluções para as necessidades femininas do que mulheres? Até muito recentemente, a discussão sobre as questões de saúde das mulheres (tanto mental quanto física) era cercada por estigma social e desinformação. Pouco se falava sobre situações específicas deste universo. Dores que se transformavam em demandas não atendidas.
Algo parece finalmente mudar. E quem surge na liderança destas transformações são as Femtechs e as Sextechs. Para aqueles que não estão familiarizados com jargões do universo de startups, Femtech - abreviação de "tecnologia feminina" - são empresas que fabricam e vendem produtos e serviços que atendem às necessidades das mulheres, em particular da saúde feminina.
Estas empresas estão baseadas em metodologias ágeis e crescimento exponencial. Os produtos e serviços típicos das Femtech incluem dispositivos wearables, tratamentos médicos, apps, soluções holísticas e itens de higiene e beleza. Na expressiva maioria dos casos, essas empresas são compostas por times femininos e uma CEO mulher. Ou seja, contra todos os estereótipos: mulheres ajudando outras mulheres.
A sexualidade do futuro. Em 2016, a apresentadora do podcast Future of Sex, Bryony Cole, previu que a maior tendência em inovações sexuais na tecnologia seriam lideradas por empresas fundadas por mulheres. Ela não estava errada. Abarcando a sexualidade no conceito de bem-estar, as Sextech ganharam força ao lado das Femtech e lideram um movimento de inovação com interessantes exemplos: vibradores com design específicos para sexualidade feminina, gadgets que rastreiam e sugerem melhorias para orgasmos, produtos formulados com ativos que respeitam o corpo e plataformas de educação sexual inclusiva. O mais interessante é que a tecnologia na sexualidade reforça mais o aspecto humano do que o robótico e, principalmente, adiciona mais opções para quem tem dificuldade na intimidade.
“É desconfortável e me fez sentir como se algo estivesse errado comigo.”
Infelizmente, ainda existe um viés sistêmico tanto no ecossistema de inovação quanto no da tecnologia. Esses espaços tendem a não refletir as necessidades das mulheres. Grande parte do que ainda é entregue em termos de produtos e soluções, ainda estão sob as perspectivas masculinas de empresas lideradas por homens. O universo das Femtech e da Sextech se torna especialmente empolgante porque pode criar soluções para todos os gêneros, pessoas com deficiência, limitações e ajuda o mercado a se tornar mais inclusivo. Além disso, o mais interessante é que não importa o quão tecnologicamente avançada a indústria se torne, permanece o desejo de conexão humana e suporte emocional.
E no Brasil, como estamos? Há muitas perguntas difíceis quando se trata de intimidade e sexualidade feminina e muitas vezes, ainda não existe vocabulário para respondê-las. Sexo é a área mais desprovida de pesquisa e dados, especialmente no Brasil. Femtech e Sextech lutam para obter financiamento, assim como pesquisas sobre sexualidade também enfrentam desafios de captação. Por conta deste cenário, dados sobre sexo e sexualidade simplesmente não são acessíveis para uma boa parte da sociedade. O que sabemos aqui no Brasil segundo a Prosex (Projeto Sexualidade) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo é que 51% das mulheres afirmaram não atingir orgasmo durante uma relação e 30% sentem incômodos e desconforto. Esses números se tornam expressivos quando consideramos que mulheres são mais da metade da população no Brasil.
Resolver dor de cliente é a base da inovação. Temos algo latente por aqui. Como empreendedora e fundadora da Feel, uma startup que atende necessidades íntimas do ecossistema feminino, ainda vivo alguns desafios. Mas uma coisa é certa - se Sextech e Femtech movimentaram US$ 29 bi e US$ 40 bi respectivamente em 2020 nos Estados Unidos, o Brasil sem dúvida ainda se beneficiará e muito com esse movimento feito por empreendedoras. Vale a pena acompanhar e apoiar!
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Founder & CEO feel
Acelerada no Pulse* - Turma 8
*Programa de Aceleração da B2Mamy
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