Escrito por Ana Carolina Gomes Bueno
Foto: banco de imagens Canva
Depois de 4 anos de um governo fascista, vivenciamos um alívio diante da retomada democrática, mas se olharmos a realidade temos milhares de mulheres sofrendo violência de todos tipos diariamente. Milhões de crianças estão sem seus direitos garantidos.. Nossa sociedade está doente.
Existem muitas causas para o nosso estado terminal. Quero falar do modelo de cuidado que perpetua opressão. Um câncer que permeia todas as relações que estabelecemos.
Numa sociedade profundamente desigual, onde se vê, fortemente, as marcas do machismo, do racismo e da divisão de classe, crianças são o elo mais frágil da estrutura social.
Precisaremos rever os pactos sociais que fizemos em relação ao cuidado para mudar o todo. Um caminho possível é entendermos a família como um organismo social vivo, tal como propôs Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia.
Quando Steiner falou de organismo social vivo, ele trouxe 3 necessidades de qualquer agrupamento humano sadio. São elas: liberdade espiritual e cultural, igualdade jurídica e fraternidade econômica. Dessas necessidades nasce um projeto social chamado de Trimembração Social. É desse ponto de partida que quero começar a discussão sobre família. Para avançar em ideias práticas, no entanto, temos que olhar para cada uma dessas necessidades.
| O que significa liberdade espiritual ou cultural?
Há muita discussão sobre o espiritual. Para que eu não coloque uma definição metafísica ou meu conjunto de crenças e valores, podemos pensar nesse aspecto como tudo que é imaterial e transcendente ao indivíduo.
Aqui mora tudo que está na esfera do pensar. Nem eu, nem ninguém, é capazes de exercer qualquer tipo de cerceamento dessa esfera. Qualquer tentativa nesse sentido gera dor e sofrimento. Isso acontece porque se opõe a realidade. Quem já tentou meditar sabe que querer não pensar é algo impossível. Conseguimos ficar com a mente “vazia” quando aceitamos o fluxo do pensamento.
| E a igualdade de direito?
Aqui mora outra grande polêmica. O justo é tudo igual ou equânime? Para mim, a igualdade está na responsabilidade com os acordos feitos. Seja escolhendo cumpri-los ou arcar com as consequências em descumprir. Já a equidade deveria ser a base para estabelecer os acordos.
| Para isso, precisamos falar da Fraternidade Econômica.
Quando falamos de Economia o que povoa o imaginário coletivo é dinheiro, bolsa de valores, dólar. Isso é parte da economia, uma parte importante, mas ela é muito mais do que isso.
Economia é um conjunto de relações de troca, em que as necessidades de uma pessoa são atendidas pelas habilidades de outra. O financeiro foi um mecanismo para agilizar esses intercâmbios. Infelizmente virou instrumento de exercício de poder. Só quando nos percebermos interdependentes é que poderemos avançar nessa esfera.
| E como é possível trazer esses aspectos para a educação dos nossos filhos?
Para trazer a liberdade cultural, podemos promover o diálogo respeitoso entre todas as pessoas. Isso significa, entre outras coisas, dar voz às crianças, seja trazendo possíveis soluções, seja expressando sentimentos (inclusive raiva, tristeza e frustração).
No intuito de aplicarmos a igualdade jurídica, precisamos fazer acordos e sustentá-los. Não adianta querer que uma criança cumpra um combinado, se do outro lado, nós, pessoas adultas, não fazemos a nossa parte.
Por último, trazer fraternidade econômica implica colocar para o mundo nossas capacidades e necessidades. O que eu posso fazer pelo outro? O que preciso que o outro faça por mim? Aqui a colaboração de todos é fundamental para a engrenagem da casa funcionar.
Quando um dos três pilares não está funcionando, todo organismo social adoece.
Basta olhar como nós, mães, estamos sobrecarregadas. Como a violência (física, verbal) ainda impera na relação com as crianças. Como o julgamento permeia o assunto cuidado.
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Texto escrito por Ana Carolina Gomes Bueno, Lover e conteudista da B2Mamy. Psicóloga familiar e de casal, autora de 2 livros e dona de uma editora focada em conteúdo de cuidado.
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