O que nossos filhos mais precisam não está na prateleira

Sep 8 / Denise Loureiro

Outro dia, me peguei pensando nessa frase que tantas mães já disseram em voz alta ou no silêncio do coração:

“Quero dar para o meu filho tudo o que eu não tive.”

Essa vontade, nasce do amor. A gente quer proteger, dar o melhor, abrir caminhos que talvez não tivemos.

Mas, com o tempo — e com algumas boas conversas com outras mães e com profissionais — entendemos que por trás dessa frase também pode existir uma armadilha: a de tentar curar nossa infância usando a infância deles.

E aí vem a pergunta que me faz respirar fundo: será que dar tudo é o que eles realmente precisam?

Quando muito vira demais: o excesso que confunde

Existe uma ideia silenciosa de que quanto mais a gente dá, mais nosso filho vai se sentir amado. Mas a verdade é que presente demais pode gerar o efeito contrário.

Pesquisas mostram que crianças com poucos brinquedos brincam de forma mais criativa e engajada. Já aquelas cercadas por excesso ficam mais dispersas — e brincam menos. Quem diria, né?

Outros estudos indicam que esse “tudo o que eu não tive” pode gerar traços de ansiedade, dificuldade com frustração e até atitudes mais materialistas nas crianças.

Não é sobre dar menos por dar menos.

É sobre dar com presença, com sentido, com intenção.

O “não” também é cuidado

Limite não é falta de amor — é segurança emocional.

Criança que ouve “não” aprende a esperar, a lidar com o desejo, a reconhecer que o mundo não gira ao seu redor (e ainda bem que não gira né!).

Isso não diminui ninguém. Pelo contrário: fortalece.

Dar tudo, o tempo todo, pode parecer generosidade, mas também pode gerar ansiedade e insegurança.

E quando a gente se permite respirar e escolher com calma, percebe que educar com equilíbrio é um presente invisível — e poderoso.

Presentes com significado, não com pressa

Se a gente conseguir transformar o momento de presentear em algo simbólico, afetivo, vivido com intenção, tudo muda.

Uma experiência vivida em família, aquele passeio especial, um recado escrito à mão ou uma tarde fazendo bolo juntos para um piquenique na sacada — são esses gestos simples que ensinam mais do que qualquer presente com embalagem colorida.

E o melhor: a criança aprende a valorizar não só o que recebe, mas quem oferece algo ainda mais precioso — tempo de verdade ao lado dela.

Uma conversa entre mães (e pais)

Dar tudo o que não tivemos pode parecer o auge do cuidado. Mas, na verdade, o que nossos filhos mais querem nem sempre é aquilo que nos faltou — e sim quem estamos conseguindo ser agora: presentes, disponíveis e os melhores pais que podemos ser.

Amar também é sustentar os limites, dizer “hoje não”, explicar, escutar, estar.

É olhar no olho, brincar junto, ser lembrado por aquele momento — e não só por aquela coisa.

Talvez o maior presente que possamos dar não esteja na prateleira.

Esteja na nossa presença, no nosso afeto, na escolha de ensinar o que realmente importa.

Na confiança de que eles vão crescer — inteiros, fortes para o mundo —

e que a gente seguirá sendo o farol.

Um farol que guia, mas não prende.

Que acolhe, mas não sufoca.

E que eles sigam voltando…

não porque precisam,

mas porque querem.

Por amor.

Artigo produzido por:

Denise Loureiro

Arquiteta de formação e mãe do Theo, Denise é fundadora da Badalou — a primeira plataforma de listas de presentes infantis que transforma os presentes em dinheiro, permitindo que as famílias escolham experiências em vez de acúmulo. Inspirada pela maternidade e movida pelo desejo de tornar as festas mais leves, práticas e conscientes, Denise foi vencedora de uma das edições do programa Pulse, da B2Mamy. Hoje, segue ajudando outras mães a celebrar com mais significado, menos pressa — e com espaço para o que realmente importa.

Os textos apresentados no "Blog B2Mamy" são de autoria da Comunidade. Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial e/ou a opinião da B2Mamy.

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