O que nossos filhos mais precisam não está na prateleira

Outro dia, me peguei pensando nessa frase que tantas mães já disseram em voz alta ou no silêncio do coração:
“Quero dar para o meu filho tudo o que eu não tive.”
Essa vontade, nasce do amor. A gente quer proteger, dar o melhor, abrir caminhos que talvez não tivemos.
Mas, com o tempo — e com algumas boas conversas com outras mães e com profissionais — entendemos que por trás dessa frase também pode existir uma armadilha: a de tentar curar nossa infância usando a infância deles.
E aí vem a pergunta que me faz respirar fundo: será que dar tudo é o que eles realmente precisam?
Quando muito vira demais: o excesso que confunde
Existe uma ideia silenciosa de que quanto mais a gente dá, mais nosso filho vai se sentir amado. Mas a verdade é que presente demais pode gerar o efeito contrário.
Pesquisas mostram que crianças com poucos brinquedos brincam de forma mais criativa e engajada. Já aquelas cercadas por excesso ficam mais dispersas — e brincam menos. Quem diria, né?
Outros estudos indicam que esse “tudo o que eu não tive” pode gerar traços de ansiedade, dificuldade com frustração e até atitudes mais materialistas nas crianças.
Não é sobre dar menos por dar menos.
É sobre dar com presença, com sentido, com intenção.
O “não” também é cuidado
Limite não é falta de amor — é segurança emocional.
Criança que ouve “não” aprende a esperar, a lidar com o desejo, a reconhecer que o mundo não gira ao seu redor (e ainda bem que não gira né!).
Isso não diminui ninguém. Pelo contrário: fortalece.
Dar tudo, o tempo todo, pode parecer generosidade, mas também pode gerar ansiedade e insegurança.
E quando a gente se permite respirar e escolher com calma, percebe que educar com equilíbrio é um presente invisível — e poderoso.
Presentes com significado, não com pressa
Se a gente conseguir transformar o momento de presentear em algo simbólico, afetivo, vivido com intenção, tudo muda.
Uma experiência vivida em família, aquele passeio especial, um recado escrito à mão ou uma tarde fazendo bolo juntos para um piquenique na sacada — são esses gestos simples que ensinam mais do que qualquer presente com embalagem colorida.
E o melhor: a criança aprende a valorizar não só o que recebe, mas quem oferece algo ainda mais precioso — tempo de verdade ao lado dela.
Uma conversa entre mães (e pais)
Dar tudo o que não tivemos pode parecer o auge do cuidado. Mas, na verdade, o que nossos filhos mais querem nem sempre é aquilo que nos faltou — e sim quem estamos conseguindo ser agora: presentes, disponíveis e os melhores pais que podemos ser.
Amar também é sustentar os limites, dizer “hoje não”, explicar, escutar, estar.
É olhar no olho, brincar junto, ser lembrado por aquele momento — e não só por aquela coisa.
Talvez o maior presente que possamos dar não esteja na prateleira.
Esteja na nossa presença, no nosso afeto, na escolha de ensinar o que realmente importa.
Na confiança de que eles vão crescer — inteiros, fortes para o mundo —
e que a gente seguirá sendo o farol.
Um farol que guia, mas não prende.
Que acolhe, mas não sufoca.
E que eles sigam voltando…
não porque precisam,
mas porque querem.
Por amor.

Artigo produzido por:
Denise Loureiro
Os textos apresentados no "Blog B2Mamy" são de autoria da Comunidade. Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial e/ou a opinião da B2Mamy.

Saiba mais |Conheça os planos