Como está a saúde mental dos RHs?
Artigo por Monique Menezes dos Santos, fundadora Gente Gentil Consultoria
Eu me deparei com essa frase em um dos cursos da Thais Basile, psicanalista, especialista em psicopedagogia institucional, escritora e palestrante. Ela coloca essa afirmação como um dos ganhos secundários que temos em manter determinados relacionamentos. Os cursos dela são em geral focados em Feminismo, Saúde Mental e Educação não são cursos relacionados diretamente à gestão de pessoas, RH ou relações de trabalho. Mas ao mesmo tempo fazendo os cursos e lendo seus materiais eu fazia uma correlação direta com o meu dia a dia de trabalho e com as relações que eram estabelecidas.
Como psicóloga e profissional de RH, atuando há mais de 15 anos em empresas de diversos segmentos, mas em especial nesses últimos 10 anos liderando times de RH em empresas de tecnologia e startups, a expressão: resolver problemas era quase uma definição em si do que era meu trabalho. Quando as pessoas me perguntavam o que eu fazia, eu respondia: ajudava as pessoas a resolver problemas, fazia reuniões o dia todo e contribui para o desenvolvimento do meu time.
Fazia parte diariamente da minha rotina como líder e como parte de executivos de empresas de alto crescimento e com ritmo de trabalho acelerado tomar decisões o tempo todo e muitas vezes com pouco tempo e contexto insuficiente. Eu falava que eu era boa em tomar decisões rápidas, e dizia isso com orgulho. É verdade que eu consigo em contextos semelhantes ao que eu lidava tomar decisões rápidas, isso não quer dizer que eram todas corretas. Errei muitas vezes. E os erros nem sempre foram tratados de maneira construtiva e isso faz total diferença na performance final do projeto. Mas isso posso aprofundar em um outro artigo.
Hoje minha reflexão é: o quanto eu estava me entorpecendo do problema dos outros e não olhando para os meus problemas? Quanto os RHs tem espaço para falar e olhar para os seus problemas?
Nos últimos meses entrei (e ainda estou) em um período de muito estudo sobre saúde mental, relações de trabalho e autoconhecimento e talvez por isso essa frase me chamou mais atenção. Sempre entendi o RH como uma área estratégica da empresa e busco na minha atuação diária mostrar para as pessoas ao meu redor o impacto positivo para as empresas quando olhamos para a gestão de pessoas de forma humanizada, construindo relações saudáveis e ambientes de trabalho seguros para as pessoas e times poderem se expressar. Acreditando que um ambiente com segurança psicológica influencia o nível de colaboração da organização, criando times e pessoas confiantes e encorajadas a contribuir.
Abaixo cito um trecho do Charles Duhigg, que é o autor de ‘‘O Poder do Hábito’’ e do livro ‘‘Mais rápido e melhor: Os segredos da produtividade na vida e nos negócios’’ falando sobre o projeto aristóteles que foi o projeto desenvolvido pelo Google que popularizou o conceito de segurança psicológica:
“O que o Projeto Aristóteles ensinou às pessoas dentro do Google é que ninguém quer fazer uma “cara de trabalho” quando chega ao escritório. Ninguém quer deixar parte de sua personalidade e vida interior em casa. Mas para estar totalmente presente no trabalho, para nos sentirmos “psicologicamente seguros”, devemos saber que podemos ser livres o suficiente, muitas vezes, para compartilhar as coisas que nos assustam sem medo de recriminações. Devemos ser capazes de falar sobre o que está confuso ou triste, para ter conversas difíceis com colegas que estão nos deixando loucos. Não podemos focar apenas na eficiência. Em vez disso, quando começamos a manhã colaborando com uma equipe de engenheiros e, em seguida, enviamos e-mails para nossos colegas de marketing e depois participamos de uma teleconferência, queremos ter certeza de que essas pessoas realmente nos ouvem. Queremos saber que o trabalho é mais do que apenas trabalho.”
Segundo relatório da Gartner: “Os líderes de RH dizem que, para ter sucesso no futuro, a liderança precisa operar de maneira mais humana.” (tradução livre)
Os RHs também deveriam estar dentro dessa gestão humanizada, não só ajudando os seus clientes internos e pessoas líderes mas cuidando de si próprio. Mas quem cuida dos RHs? Estamos nos cuidando? Quanto tempo dedicamos a acolher nossas angústias, medos e frustrações?
Meu convite aqui é cuidarmos da nossa saúde mental também. Como dizem as pessoas comissárias de bordo, primeiro precisamos colocar a máscara em si próprio para depois ajudar o outro a colocar. Thaís Basile diz que como caminho para resolver esse sofrimento, de tentar o tempo todo nos "entorpecer do problema dos outros”, devemos buscar relações que curem.
Cita alguns caminhos:
Relacionamentos que não negam nossa realidade;
Relacionamentos com pessoas que sabem entender e regular suas próprias emoções;
Relacionamentos com pessoas que sabem se responsabilizar pelos seus erros, se desculpar e ouvir como suas ações nos impactaram;
Muitas vezes, precisamos primeiro ter esse relacionamento conosco, para depois conseguir buscar esse tipo de relacionamento com os outros.
De forma prática, entendo que ter espaço na nossa rotina para os rituais abaixo podem nos ajudar nessa jornada:
Fazer conversas periódicas com outras pessoas de RH e compartilhar sua experiência possa ajudar a ver que você não está sozinha;
Buscar dentro da empresa estabelecer relações de confiança no seu time, com sua liderança e poder falar sobre isso é importante;
Fazer mentoria pode contribuir nesse jornada uma vez que você terá uma pessoa de referência te ajudando;
Terapia como mais um espaço de autoconhecimento.
Faz sentido? Eu estou adorando refletir sobre esses temas. Você passa por esse contexto e gostaria de ajuda para refletir e buscar saídas possíveis? Estou aqui doida para saber como isso chega para você. ;)
Bibliografia:
Educação para paz: Pais e Mães que ferem, Thais Basile, 2022.
Liderança Humanizada, Alexandre Pellaes, 2023.
Evolve Culture & Leadership for the Hybrid Workplace, Gartner, 2022.
Monique Menezes dos Santos, fundadora e consultora da Gente Gentil Consultoria. Hoje ajudo empresas e pessoas a criarem ambientes que priorizem a saúde mental, processos e relações de trabalho mais gentis e humanizados, especialmente para mães e mulheres. Mais de 15 anos de experiência em RH atuando em empresas de grande porte e os últimos 10 anos em empresas de Tecnologia/Startup ocupando posições de liderança executiva de RH. Graduada em Psicologia pela UFF, com Pós-MBA em Gestão de Pessoas pela FGV. Cursando Formação em Educação e Parentalidade Encorajadora e pós-graduação em Psicoterapia de Família e Casal, pela PUC-RJ.
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